Janela da alma

Janela da Alma

“Eu não me penso fora de foco, mas então o mundo estaria fora de foco ou eu estaria, entendeu?” diz Carmela Grosso, artista plástica ao falar sobre sua visão no documentário “Janela da Alma”, onde pode ser percebido que o homem ultrapassa o limite dos cinco sentidos, de como estes são direcionados conforme as experiências pessoais e como a cultura o condiciona. O olho não constrói a visão.
O documentário mostra várias pessoas com diferentes deficiências visuais, desde miopia até cegueira completa. A “Janela da Alma” mostra como a visão esta muito mais relacionada aos significados, aos sentidos que as pessoas dão aos outros, as coisas do mundo e a si mesmo: “ o reconhecimento, a memória visual, e toda forma de percepção devem estar inseparavelmente ligados à emoção” disse Oliver Sacks. As imagens não se limitam a serem produzidas pelo olhar, são representações atribuídas a algo por aqueles que a percebem e essa capacidade humana de produzi-las está além da habilidade de enxergar com os olhos. O filosofo e fotografo Eugen Bavcar afirma: “não vejo as imagens e, contudo sou capaz de fazê-las.” No filme, Arnaldo Godoy, vereador de Belo Horizonte, que é cego, tem a capacidade de orientar o motorista do veiculo em que se encontra a fazer o trajeto desejado sem erros. Isso mostra que com a perda da visão,os outros sentidos se tornam mais aguçados. Ele fez um “mapa na cabeça” das ruas da capital mineira.
A filha do vereador Godoy, deu uma entrevista, falando do orgulho que ela sente em relação a seu pai, e que a cegueira dele acaba virando uma certa “vantagem”. Ter deficiência visual não é o mesmo que ser incapaz de se relacionar com as pessoas e com o meio, mas os fatores biológicos sempre são vistos como determinante de estilo de vida e até mesmo na formação de identidades. Quando essas pessoas portadoras de deficiência não se comportam como a maioria das pessoas pensa que deveriam, tornam-se surpreendentes e símbolos de superação. Hermeto Pascoal