Janela da ALma
Consta que foi Leonardo da Vinci quem batizou os olhos de “janelas da alma”. Segundo o famoso artista, “O que há de admirável no olho é que através dele – de um espaço tão reduzido – seja possível a absorção das imagens do universo. De sorte que esse órgão – um entre tantos – é a janela da alma, o espelho do mundo.” Inspirados por este pequeno texto, os cineastas João Jardim e Walter Carvalho realizaram Janela da Alma, documentário que vem colecionando prêmios pelos festivais por onde passa. Entre eles, os de Melhor Filme, Fotografia e Música no Ceará, Melhor Documentário brasileiro tanto pelo júri oficial como pelo popular na Mostra de São Paulo e Melhor Filme no Festival de Cinema Brasileiro de Paris 2002.
Tendo o cinema como principal ferramenta de trabalho, não é de estranhar que Jardim e Carvalho tivessem o desejo de investigar como os problemas de visão interferem na personalidade e na vida de cada um. Mesmo porque Jardim, com oito graus e meio de miopia, usa óculos desde os quatro anos e há muito tempo repete o hábito quase mecânico de colocá-los e tirá-los. Enxergar a realidade desfocada, sem as lentes, foi o ponto de partida que o motivou a realizar o filme. Definido o tema, Jardim convidou outro míope, Walter Carvalho (diretor de fotografia dos melhores filmes brasileiros dos últimos tempos) para dividir o projeto. Juntos somam 16 graus de miopia. E juntos também realizaram um belíssimo trabalho.
A mecânica de Janela da Alma é muito simples. Coletar depoimentos de pessoas com problemas de visão e tentar mapear como esta distorção afeta a percepção do mundo. Entre os entrevistados estão Hermeto Pascoal, o cineasta Wim Wenders, o escritor José Saramago e o médico Oliver Sacks, que inspirou o filme Tempo de Despertar, com Robin Williams. Apoiados sobre esta simplicidade narrativa, os cineastas obtêm depoimentos esclarecedores, envolventes e até emocionantes. No caso, menos é mais. A força das entrevistas é mais do que suficiente para