Interpretação genética da variabilidade humana
O termo caráter é utilizado em Genética com um sentido muito amplo, já que designa qualquer característica, normal ou patológica, passível de ser notada durante qualquer fase do desenvolvimento de um indivíduo, isto é, desde a sua formação até a sua morte.
Essa amplitude de significação tende, no início, a confundir o leitor não familiarizado com os métodos, os problemas e os resultados da Genética. Realmente, não só em conseqüência da técnica de estudo, do instrumental utilizado, ou da capacidade do observador, mas, muitas vezes, simplesmente, pela conveniência de uma situação, designa-se como caráter ora uma determinada doença com todos os seus sinais e sintomas, ora apenas um sinal dessa doença. Por outro lado, em determinados casos, dá-se o nome de caráter a características tais como estatura, cor da pele, fertilidade, pressão arterial e, em outros, utiliza-se a mesma designação para nomear variedades contrastantes dessas mesmas características, ou seja, estatura alta e estatura baixa, pele branca e pele preta, fertilidade e infertilidade, pressão arterial alta e pressão arterial baixa.
A plasticidade do significado e do emprego do termo caráter, que envolve sempre diferentes níveis de abstração, decorre da necessidade que o geneticista tem de aplicar a análise estatística à interpretação da realidade. E, para a descrição do mundo real em termos matemáticos, a edificação de uma imagem abstrata do mesmo é uma condição imprescindível. Tal atitude, às vezes empregada até com um certo excesso, é, entretanto, plenamente justificada quando se analisam os seus resultados, pois na Genética, do mesmo modo que nas ciências exatas, encontramos situações em que os conceitos artificiais utilizados na elaboração de hipóteses permitiram a obtenção, por dedução matemática, de leis que, ao serem aplicadas ao mundo real, passaram a representar um certo número de fenômenos naturais com alto grau de exatidão.