Inflação inercial
O ideal coincide ou não com o real. Na ordem moral essa relação é bastante peculiar. O ser em si dos valores subsiste mesmo se não realizados. Mas os valores são princípios da esfera ética atual, não apenas princípios da esfera ética ideal observou Hartmann. É a consciência estimativa que dá o testemunho da atualidade dos valores. Ela sinaliza o sentido primário do valioso, determina o juízo moral, o sentimento de responsabilidade e a consciência da culpa.
Mais ainda, os valores são princípios da esfera ética real. São forças determinantes da conduta humana num sentido criador. "A possibilidade que o homem tem de converter as urgências do ideal em forças modeladoras do existente condiciona, segundo Hartmann, a grandeza de nossa linhagem. Como administrador dos valores no mundo, o homem adquire uma significação demiúrgica, convertendo-se deste modo em coparticipe da grande obra de Deus."
Adquire especial relevo na doutrina da realização de valores a noção do dever ser. É uma noção kantiana suprema e, portanto, indefinível. Todo valor ético deriva da subordinação da vontade ao imperativo categórico. Já Scheler e Hartmann invertem a proposição: o valor moral não se funda no dever, mas ocorre o inverso: todo dever pressupõe a existência dos valores.
Para eles, não haveria sentido dizer que algo deve ser, se o que se postula como devido não fosse valioso. Caridade, justiça, temperança e outras virtudes devem ser, enquanto valem. Carecessem de valor e não deveriam ser.
O dever ser hartmanniano tem os seguintes elementos: a) a existência de um valor; b) o dever ser ideal do mesmo; c) a atualização de tal dever (dever ser atual); d) a existência de um ser capaz de realizar o valioso. O mundo real não é em si plenamente valioso, nem completamente desvalio. Nele se realizam múltiplos valores e outros quedam irrealizados. Mas há sempre a possibilidade de novas realizações valorativas.
Mas como pode o homem realizar o valioso? Realizar o