Pérsio Arida - Inflação Inercial
Pérsio Arida e André Lara-Resende – Ano: 1986
Em 1964, após o Brasil ter convivido com uma inflação de dois dígitos por três décadas, o novo governo militar lançou um programa de estabilização que reduziu a inflação a níveis ligeiramente abaixo de 40% em 1965 e 1966. O relativo sucesso do seu programa de estabilização baseou-se nos controles salariais impostos por medidas autoritárias, complementados por controles seletivos de preços.
O primeiro e segundo choque do petróleo, acompanhados da redução à metade do intervalo de indexação dos salários e contratos de aluguéis, e de uma desvalorização do cruzeiro de 30% acima da depreciação de paridade face ao dólar no final de 1979, explica a aceleração da inflação em 1979 e 1980 para o nível de 100%. O governo, então, impôs medidas de austeridade em fins de 1980. Implementou-se um pacote de medidas fiscais visando cortes generalizados em todos os programas de investimento publico. A despeito do desemprego rapidamente crescente e do colapso de ambos os investimentos público e privado, a inflação apresentou apenas uma redução marginal de 110% em 1980 para 100% em 1981.
A crise da dívida internacional e o colapso dos mercados de crédito internacionais que se seguiram à moratória mexicana de agosto de 1982 causaram a crise da liquidez externa do Brasil. Articulou-se um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para que pudesse garantir um reescalonamento ordenado da dívida externa. Tal programa tinha como propósito a redução na absorção interna para reestabelecer o equilíbrio interno e externo.
O FMI fixou metas monetárias mais restritivas para eliminar o déficit do setor público e revistou todas as metas após a desvalorização cambial real de 30% em 1983. Entretanto, mesmo as metas revistas se mostravam inatingíveis nos trimestres subsequentes. A aceleração da inflação para 210% e 1983 tornou inúteis todos os esforços para se cumprirem as metas