Império do Efêmero
Com a Alta Costura aparece a organização da moda tal como a conhecemos ainda hoje, pelo menos em suas grandes linhas: renovação sazonal, apresentação de coleções por manequins vivos, e sobretudo uma nova vocação, acompanhada de um novo status social do costureiro. Desde Worth, o costureiro se impôs como um criador cuja missão consiste em elaborar modelos inéditos, em lançar regularmente novas linhas de vestuário que, idealmente, são reveladoras de um talento singular, reconhecível, incomparável. Fim da era tradicional da moda, entrada em sua fase moderna artística, o primeiro que introduz mudanças incessantes de forma, tecidos, de acessórios, que transforma a uniformidade das toaletes a ponto de chocar o gosto do público, que pode revindicar uma “revolução” na moda atribuindo-se o mérito de ter destronado a crinolina. O costureiro tornou-se um artista moderno, aquele cuja lei imperativa é a inovação. É nesse contexto que a moda se identificará cada vez mais com a profusão criativa da Alta Costura: antes de 1930, as grandes casas apresentavam a cada estação coleções ricas de 150 a 300 modelos novos, e nos anos 1950, criavam-se em Paris cerca de 10 mil protótipos por ano.
A distância em relação ao passado é nítida, o costureiro, agora modelista, tornou-se “gênio” artístico moderno. O alfaiate ou a costureira tinham pouca iniciativa, os “moldes” eram imperativos, seus elementos de base eram mais ou menos invariáveis durante um dado período; só certas partes do traje autorizavam um corte e um feitio fantasistas. A realizadora não tinha nenhum papel criador; é preciso esperar o aparecimento na segunda metade do século XVIII , dos “vendedores e vendedoras de moda” para que seja reconhecida, em ofícios de moda, uma certa autonomia criadora. O talento artístico conferidos aos negociantes de moda reside, então, no talento decorativo, na capacidade de enfeitar e enobrecer o vestuário por meio de fantasias de moda, não na