Ideologia e senso comum
Muitos de nós temos nossas opiniões sobre diversos assuntos do dia-a-dia. Damos nossos pitacos sobre futebol, falamos sobre nossos gostos, apoiamos ou criticamos alguma religião... até aí, tudo bem. Uma sociedade multicultural é uma sociedade com muitos pontos de vista. Como já dizia o jornalista Walter Lippmann, “Quando todos pensam igual, ninguém está pensando”. Mas quantas vezes paramos para analisar até que ponto nossas opiniões são realmente nossas, fruto de uma reflexão e uma conclusão bem feita, ou apenas mera reproduções da opinião geral, conhecida como senso-comum?
O senso-comum é recheado de frases feitas, que são consideradas “verdades da sabedoria popular”. Mas essas frases muitas vezes escondem uma visão de classe, contendo uma ideologia por trás da sua fachada neutra. Vamos ver um exemplo muito conhecido: “O Trabalho dignifica o homem”
De fato, esta afirmação não é falsa. Olhe para uma cidade: agora imagine que você possa retirar mentalmente tudo o que não é natural. Retire as ruas, os postes de luz, os carros, as lojas, as fábricas, os prédios, as casas... O que sobra é um terreno vazio, a Natureza em seu estado original. Tudo o que você retirou mentalmente é trabalho, a mão do homem modificando a Natureza, e assim distinguindo-se do restante dos animais. Isso é positivo, mas essa frase pode se tornar ideológica quando mascara relações de exploração do trabalho alheio por outros homens. Defender que o trabalho, deste tipo, o alienado (no sentido de que o resultado do trabalho não pertence a quem produziu a riqueza), dignifica o homem, é um sinal de que você não refletiu bem sobre o que isso significa.
Como a ideologia atua no senso-comum
Dessa maneira, é muito fácil vermos a sociedade aprovar (senso-comum) e as mães se orgulharem de seus filhos que acordam às 4 da manhã, que pegam o trem de Japeri lotado, que dão duros no trabalho o dia inteiro, para à noite pegar outro trem lotado até seus