Ciência entre os extremos do senso comum e da ideologia
(Síntese sobre a relação ciência, senso comum e ideologia: DEMO, Pedro. Demarcação Científica In: DEMO, Pedro. Metodologia Científica em Ciências Sociais. São Paulo: Atlas, p.13-28,1981)
Conhecimento generalizado.
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O problema central da metodologia é a demarcação científica, ou seja, a definição do que é ou não ciência.Por incrível que pareça, não há coisa mais controversa em ciência do que sua própria definição.
É sempre mais fácil definir pela exclusão, ou seja, definir o que a ciência não é. Podemos imaginar um espaço contínuo, no meio do qual colocamos a ciência e nos extremos o senso comum e a ideologia. Ao dizermos que se trata de um espaço contínuo, aceitamos que os limites entre estas categorias não são estanques; pelo contrário, eles se superpõem nas orlas de contato.
O critério de distinção do senso comum seria o conhecimento acrítico, imediatista, que acredita na superficialidade do fenômeno. A dona-de-casa também sabe de inflação, porque percebe facilmente a subida . contínua dos preços; mas seu conhecimento do problema é diferente daquele do economista, que tem para ele já uma teoria elaborada (ou várias) e uma avaliação crítica de profundidade. Podem-se colocar dentro do senso comum também modos ultrapassados de conhecer fenômenos, considerados como crendices ou coisas semelhantes. O trabalhador rural pode ter seu método de previsão de chuva, usando como indicador importante o zurrar do burro; o agrônomo se sentirá inclinado a rejeitar este método e a buscar outros indicadores tidos por mais críticos e realistas. Muitas doenças são curadas por métodos caseiros, resultantes de conhecimentos historicamente acumulados; a medicina acadêmica pode aceitar