A democracia na sociedade disciplinar
Introdução
Quantas vezes você diz: “Tenho absoluta certeza de que..”, “Estou convencido de que.”, “Tenho sólidos princípios ..“? Mas você já parou para pensar se suas idéias são suas mesmo? E se por trás das suas convicções mais arraigadas houvesse “forças” ocultas que o levam a defender essas opiniões e não outras?
Afinal, de onde vêm suas certezas?
Esse início de “conversa” é, sem dúvida! uma provocação. Aliás, é função da filosofia desestabilizar convicções, de modo que vez ou outra percamos o horizonte que nos orienta, para abandonarmos a postura ingênua, na busca de uma visão mais crítica.
É sobre o processo de colocar em questão certas “verdades” que iremos nos ocupar neste capítulo. Em sua primeira parte trataremos da distinção entre senso comum e bom senso, para melhor compreender o que é ideologia; na segunda, ampliaremos as interpretações dadas a esse conceito por diversos filósofos.
1. Do senso comum ao
Bom senso
Desde crianças, recebemos idéias e valores “de fora para dentro”, que plasmam nossa maneira de sentir e de pensar Por exemplo, o modo como nos relacionamos com pais, professores, amigos e vizinhos, como trabalhamos ou nos divertimos, tudo isso varia conforme o lugar em que crescemos (cidade ou campo), se pertencemos a segmentos sociais privilegiados ou pobres, se convivemos em grupos de fortes convicções religiosas ou de orientação laica.
No século XIX, o tratamento cerimonioso que as mulheres dispensavam a seus maridos, chamando-os de "senhores” e devendo-lhes obediência, era resultado da tradição patriarcalista que as confinava no lar e as sujeitava aos valores da sociedade androcêntrica, isto é, centrada na figura masculina. Hoje em dia, pelo menos nas grandes cidades cosmopolitas, as relações familiares são mais descontraídas e até os filhos tratam os pais por “você”
Esse exemplo serve para refletirmos sobre as certezas a respeito dos papéis masculinos e femininos que, conforme a tradição, marcam de