identidades
DA IDENTIDADE*
Roberto Cardoso de Oliveira
O interesse sobre o tema da identidade tem tido ultimamente, entre nós, estudiosos de ciências sociais, uma freqüência extraordinária! Embora eu pretenda falar a partir do horizonte de minha disciplina, a Antropologia, não posso deixar de reconhecer — e nesta oportunidade mencionar
— o quanto o tema deslizou sobre as demais disciplinas irmãs. Tal constatação animou-me a escolher “os (des)caminhos da identidade” como o assunto desta conferência, a qual fui convidado a ministrar pela presidência da Anpocs, convite que considero um privilégio e uma honra. Espero que as considerações que passarei a fazer possam ir ao encontro das preocupações de um público mais amplo, não restrito ao de minha própria disciplina, como de resto são os colegas e estudantes — e o público em geral — que normalmente ocorrem às reuniões anuais de nossa
Associação.
Em primeiro lugar, creio que deva esclarecer a expressão a que recorri relativamente à identidade, isto é, a recorrência a dois termos, “caminhos”
* Versão revisada de conferência proferida no XXIII
Encontro Anual da Anpocs, Caxambu, MG, outubro de
1999.
e “descaminhos”, utilizados metaforicamente, para designar uma ambigüidade. A associação das duas palavras, sintetizada numa única expressão,
“(des)caminhos”, sugere a direção que desejo dar, nesta exposição, àquilo que entendo como sendo o ponto estratégico sobre o qual o estudioso melhor poderá fixar a sua atenção em sua tentativa de elucidar a identidade como um objeto de investigação antropológica ou sociológica. Esse ponto estratégico é precisamente o oposto do
“ponto cego”, isto é, aquele lugar que não nos é permitido visualizar pelo espelho retrovisor do automóvel. Claro que trazer essa imagem tão cotidiana e trivial não é um desses recursos correntes utilizados por alguns importantes filósofos britânicos ao lançarem mão de historietas — como bem ironiza Geertz — para