História do urbanismo
08/04/2005 Entrevista com Jacques Le Goff, historiador francês especializado em Idade Média. Realizada por François Giron e publicada originalmente na revista Le Point, nº duplo 1684/1685, de 23 a 30 de dezembro de 2004. Tradução: Leticia Ligneul Cotrim Revisão técnica: Mauro Almada *** Jacques Le Goff, professor universitário e medievalista é considerado, merecidamente, um dos mais importantes historiadores da atualidade. Munido de sua paixão pela Idade Média, ele lança aqui um novo olhar, indagador e profundamente humano, sobre o period
Jacques Le Goff. Imagem: www.knaw.nl
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Le Point (LP): Enquanto historiador da Idade Média, o Sr. deve ter estudado bastante as cidades desse período, sua importância e seu papel. A cidade medieval foi uma continuação da cidade antiga ? Jacques Le Goff (JLG): Na passagem da Antiguidade para a Idade Média, as cidades se transformaram profundamente. Na Antiguidade, a cidade 1
desempenhava três papéis principais: primeiro, um papel militar, uma vez que, no Império Romano, o recrutamento [déploiement] dos exércitos se apoiava nas cidades. Segundo, uma função administrativa e política. E por fim, uma função econômica, restrita ao consumo e sem ligação com a produção, uma vez que esta estava restrita às grandes propriedades rurais, denominadas villae. Na primeira metade da Idade Média, com o desenvolvimento do feudalismo, as cidades sofreram mutações. A antiga vocação militar declina, suplantada que foi pelo surgimento do castelo fortificado [château-fort], cercado de muralhas e fossos, que se torna o centro do poder, implantado principalmente nos campos do norte da França. A cidade, portanto, não abriga mais, nem a função de recrutamento, nem a de organização militar, papéis que lhe pertenciam. Os exércitos medievais, que por muito tempo foram temporários, eram convocados na primavera e, essencialmente, entre os homens do campo. Do mesmo