Hiato
Em “Hiato¹”, documentário de Vladimir Seixas, o espectador toma conhecimento dos eventos ocorridos em agosto de 2000, na zona sul da cidade do Rio de Janeiro, quando um grupo de manifestantes ocupa um grande shopping e elicia uma colisão cultural que gera as mais variadas reações dos envolvidos, tendo a imprensa como primeira testemunha.
Em um movimento que pode ser encarado como o precursor do “rolezinho” atual, levando-se em consideração uma característica fundamental, a manifestação pacífica, o evento em questão também não se apoiou na violência, mas sim, na transgressão de implícitos limites que norteiam o comportamento da sociedade brasileira contemporânea. Composto por moradores de rua e residentes em favelas, o grupo adentrou numa nova dimensão sócio-econômica ao caminhar pelo shopping Rio Sul. Enquanto o grupo visitante supostamente almejava apenas um tranquilo passeio, o contingente relacionado ao shopping, em sua maior parte, externou um misto de medo, aversão e pânico. Tais sensações emergiram após uma rápida leitura auto-referente do grupo visitante. Um estereótipo assustador e aversivo acenou rapidamente no imaginário coletivo dos que se encontravam no estabelecimento quando da entrada dos manifestantes. Esta dificuldade em lidar com a diversidade não é algo recente na história humana.
Os gregos antigos já tinham uma denominação destinada àqueles que divergiam do seu proceder político, religioso, social e cultural: bárbaros. Nesta conduta é possível depreender que a cultura helênica via a si mesma naquele momento, como o auge da evolução cultural. Incorria em grave erro, até hoje perpetrado pela sociedade contemporânea. O erro de observar as características culturais alheias através de uma escala tendo, via de regra, sua própria cultura alocada no ponto mais alto. Ou seja, observar a cultura, de maneira geral, a partir de uma perspectiva “evolutiva”. Não há culturas mais evoluídas e menos evoluídas, existem sim diferenças,