hannah arent
Observa que estes eventos diferem dos que seriam protagonizados posteriormente pela Ilustração devido ao fato de que os protagonistas se viam atrelados na tradição do pensamento ocidental e não formando parte de uma constelação original.
Do ponto de vista da ciência, o que constituiu um fato verdadeiramente novo não foi a invenção do telescópio nem sua aplicação terrestre, apesar do estupor dos contemporâneos de Galileu, mas:
“O que Galileu fez e que ninguém havia feito antes foi usar o telescópio de tal modo que os segredos do universo foram revelados à cognição humana ‘com a certeza da percepção sensorial’; isto é, colocou diante da criatura presa à Terra e dos sentidos presos ao corpo aquilo que parecia destinado a ficar para sempre fora do seu alcance e, na melhor das hipóteses, aberto às incertezas da especulação e da imaginação”
Este evento, que Hannah Arendt equipara como Whitehead ao nascimento de Cristo, não somente determina para a autora o descobrimento do ponto arquimediano fora da Terra, a partir do qual a ciência poderá examinar o mundo, como também implica o ponto inicial de um processo de alienação do mundo que nunca mais se deteria. E para Arendt este evento assume características kafkianas, levando em suas entranhas ao mesmo tempo o sentimento de triunfo e o desassossego do desespero .
Este desespero é qualificado e observado como reação da filosofia frente à nova situação do mundo. Para
Arendt essa reação não foi de exaltação e sim levou “...à dúvida cartesiana que fundou a filosofia moderna — essa ‘escola de suspeita’, como Nietzsche a chamou alguma vez — e que levou à convicção que, ‘de agora em diante, a morada da alma só pode ser construída na sólida fundação do mais completo desespero’” (Arendt 1981)