Hannah Arendt e contratualistas
I
No livro “O Contrato Social” de Jean-Jacques Rousseau, o teórico político cita que “A mais antiga de todas as sociedades, e a única natural, é a da família.” (1762, p. 22). Para ele, a necessidade de conservação de uma criança, que não pode viver sozinha, une-a aos pais – não por conveniência, mas por instinto de sobrevivência. Neste quesito, é possível citar uma filósofa política, que adotou estas ideias ao analisar uma sociedade em que a esfera privada era distante da pública: “(...) era só no lar que o homem se empenhava basicamente em defender a vida e a sobrevivência” (ARENDT, 1958, p. 45).
É possível também utilizar os ensinamentos de Hannah Arendt na questão do labor para explicar o ocorrido na família. As ações realizadas para conservar a sobrevivência estão intimamente ligadas com a questão de se satisfazer as necessidades biológicas do corpo, este seria apenas o “labor” do homem (que por apenas satisfazer necessidades, não gera excedente, tudo o que é produzido para o labor é consumido imediatamente).
No mesmo livro, – “A Condição Humana” – Arendt aproveita as ideias de Aristóteles, que mostrava como o escravo poderia perder a condição de “homem”: para que se viva a vida na polis, a vida pública, há a necessidade de transcender o labor, possibilitando a existência de outras preocupações, se não as demandas do corpo; e o escravo, acorrentado ao seu senhor, vivia apenas pela sua própria sobrevivência, perdia a condição de “homem”. Apesar da distância entre as esferas da família e da política, Hannah Arendt concorda com Rousseau quando diz: “Historicamente, é muito provável que o surgimento da cidade-estado e da esfera pública tenha ocorrido às custas da esfera privada da família e do lar”(p. 38). Entre outras palavras, um artificie do homem, a esfera pública