Hamlet: uma representação da melancolia principesca
A peça Hamlet de William Shakespeare representa bem as palavras de Walter Benjamin: “O Príncipe é o paradigma do melancólico. Nada ilustra melhor a fragilidade da criatura que o fato de que também ele esteja sujeito a essa fragilidade” (BENJAMIN, 1984, p.165). Na tragédia o Príncipe Hamlet da Dinamarca, filho do Rei Hamlet que fora recentemente morto, se vê em um conflito entre a as exigências de sua posição e seus sentimentos, que o consomem.
Uma pessoa representar um papel em vez de ser fiel à sua realidade interior é um ato ignóbil para Hamlet: “Parece, senhora? Não, madame, é! Não conheço o parece. Não é apenas o meu manto negro, boa mãe, minhas roupas usuais de luto fechado, nem os profundos suspiros, a respiração ofegante. Não, nem o rio de lágrimas que desce de meus olhos, ou a expressão abatida do meu rosto, junto com todas as formas, vestígios e exibições de dor, que podem demonstrar minha verdade. Isso, sim, parece, são ações que qualquer um pode representar. O que está dentro de mim dispensa e repudia os costumes e galas que imitam a agonia.” (SHAKESPEARE, 2011, pp.21 e 22). Sendo Príncipe, Hamlet é atormentado pela necessidade de separar o ser do parecer.
A aparição do Rei morto para Hamlet aprofunda sua melancolia. Seu pai exige que Hamlet mate o tio, e então Rei, em vingança. O casamento tão breve entre sua mãe e seu tio já lhe trouxera desgosto: “Um pequeno mês, antes mesmo que gastasse, as sandálias com que acompanhou o corpo de meu pai, como Níobe, chorando pelos filhos, ela, ela própria – Ó Deus! Uma fera, a quem falta o sentido da razão, teria chorado um pouco mais – ela casou com meu tio, o irmão de meu pai, mas tão parecido com ele como eu com Hércules! Antes de um mês! Antes que o sal daquelas lágrimas hipócritas deixasse de abrasar seus olhos inflamados, ela casou. Que pressa infame, correr assim, com tal sofreguidão, ao leito incestuoso! Isso não é bom, nem vai acabar bem.”