Granada
O Poeta manifesta desejo de evasão para capitais europeias onde é possível chegar de comboio. A felicidade está onde não se está.
Infere-se a existência de pessoas no interior das casas. Os mestres carpinteiros saltam de viga em viga, como morcegos, abandonando o trabalho.
Uma leitura de O Sentimento dum Ocidental, de Cesário Verde * Página 1
Boqueirões, becos.
Cais a que se atracam botes. Tempo de evasão: recuo ao tempo dos Descobrimentos
Fim da tarde.
Hora de jantar.
Espaço de evasão: os
Descobrimentos.
No mar, vogam os escaleres de um couraçado inglês. Em terra serve-se o jantar nos hotéis da moda.
Um trem de praça (onde arengam dois dentistas). As varandas das casas. As lojas. Arsenais e oficinas.
O rio a reluzir, viscoso.
Os calafates, aos magotes, de jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos, regressam a casa.
Personagens de evasão: mouros, heróis ressuscitados. Camões a salvar Os Lusíadas a nado.
Infere-se a presença dos ingleses, nos couraçados, os privilegiados da sorte a jantar nos hotéis da moda.
Dois dentistas (arengam num trem de praça). Um trôpego arlequim (um desfavorecido da sorte) braceja numas andas.
Os querubins do lar (a criançada, à espera dos pais, aos saltinhos, nas varandas). Os comerciantes, em cabelo (descompostos), enfadam-se, à porta das lojas, por falta de clientes.
O operariado deixa o trabalho e regressa a casa. As obreiras, apressadas. As varinas, em grupo, hercúleas, galhofeiras.
As varinas, de troncos fortes como pilastras, agitam, ao andar, as ancas opulentas.
Os filhos das varinas (que elas embalam à cabeça), vão dentro das canastras.
As varinas trabalharam, de manhã à noite, nas descargas de carvão, nas fragatas, vão descalças. As varinas moram num bairro sem condições (aí miam gatas, o peixe podre gera focos de infecção).
O Poeta, a cismar, por