Gramsci e sociedade civil
Nosso artigo tem como objeto um dos conceitos centrais da obra de Antonio Gramsci: sociedade civil. Durante grande parte do século XX, Gramsci foi um dos principais pensadores que não apenas reinterpretou o conceito de sociedade civil, mas utilizou-o como elemento primordial em sua teoria. Entretanto, sua interpretação é diferente da tradicional, reconstruindo seu conteúdo e significado no interior de uma concepção crítica em relação à ordem vigente. Primeiro partiremos da gênese deste conceito, passando pelas suas diferentes utilizações através de autores referenciais, como Hegel e Marx, para então realizar uma análise da concepção de sociedade civil no interior da obra de Gramsci. Dessa forma, acreditamos que conseguiremos uma melhor percepção do que significa sociedade civil não apenas partindo da análise dos conceitos correlatos, como sociedade política e hegemonia, mas construindo um apanhado geral da influência deste conceito no interior das “idéias força”, as quais não são concebidas de forma “isolada” pelos autores, mas engendram processos históricos mais amplos. A utilização de um determinado conceito, mais do que uma escolha individual de um autor, é também, em certo sentido, uma “necessidade histórica”, resultante da luta de classes e dos conflitos entre as diversas concepções de mundo que disputam, entre si, a hegemonia da sociedade. Em paralelo, destacaremos as concepções de “sociedade civil” que acreditamos ter maior relação com o arcabouço conceitual de cada autor; não tentaremos, através de nossos esforços, determinar que visão seja mais “correta”, mas relacionar em que medida uma certa significação de um conceito pode modificar inteiramente uma determinada concepção teórica. As diversas concepções em torno da “sociedade civil” influenciam diretamente na forma de apreensão da realidade, já que este é um conceito chave e não meramente uma