O pensamento político de Gramsci
Carlos Nelson Coutinho. Il pensiero politico di Gramsci. Milão: Unicopli, 2006. 170p.
Estamos diante da tradução do livro sobre o mesmo assunto, escrito em português e publicado no Brasil (Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1999 e 2003). O autor é um intelectual marxista muito conhecido no Brasil e é um especialista reconhecido da obra de Gramsci (editou em português os Cadernos do cárcere e uma antologia dos Escritos políticosanteriores à prisão).
Questões de método
De leitura agradável o capítulo IV, dedicado a “Observações metodológicas sobre osCadernos do cárcere”, que se inicia com a controversa questão do caráter fragmentário ou, ao contrário, sistemático dos Cadernos. Coutinho se esforça por encontrar nos Cadernosuma passagem do abstrato ao concreto, análoga ao método usado por Marx em O capital. Gramsci se eleva ao nível do universal para responder a questões decisivas: por que não foi possível triunfar no Ocidente, como o fora na Rússia, no momento em que os diferentes países do mundo experimentavam um movimento de ocidentalização que tornava a revolução inteiramente possível?
Gramsci, não podendo dirigir revoluções, teve o prazer de praticar a “ciência da política”. Dela faziam parte, segundo ele, Maquiavel e Vico, Mosca e Croce. E Coutinho cita com aprovação a afirmação de A. R. Buzzi (La teoria politica di Gramsci, Florença, 1973) segundo a qual “é a política que forma o núcleo central do pensamento de Gramsci, que dá sentido e articulação a todas as suas investigações históricas e reflexões filosóficas”. É preciso entender a política em seu sentido amplo, que implica uma catarse. Sobre isso, Gramsci escreve: “A fixação do momento catártico torna-se assim, a meu ver, o ponto de partida de toda a filosofia da práxis”.
Os comentários de Coutinho a este respeito apresentam um duplo interesse e proporcionam um duplo prazer. Com efeito, eles são atravessados tanto pelo historicismo radical da filosofia