gorgias e parmenides
É, para nós que vivemos no mundo da tradição ocidental, um problema de extrema importância o critério e a validade da proposição verdadeira, isto porque nossa compreensão e linguagem já se decidiram por uma determinada sintaxe da verdade. Este artigo pretende trazer elementos para pensar a instauração desta “sintaxe da verdade”, analisando as mudanças da função verbal do verbo ei^mi (ser) no Poema de Parmênides.
1. AS ORDENS DA SINTAXE Górgias, na introdução de seu Elogio a Helena diz que “O mais-belo-arranjo (kovsmo") para um discurso (lovgw/) é a verdade (ajlhvqeia)”1. Um belo arranjo só pode ser o resultado de uma boa disposição, de um bem medido ordenamento. Mas qual é a boa ordem e a disposição bem medida da verdade? Qual a “tática” da frase verdadeira, qual sua sintaxe? Sobre o silêncio estendem-se os exércitos da fala. Uma coluna de valentes adjetivos marcha à frente dos contigentes mercenários. Arqueiros preposicionam-se sobre o escarpado para cobrir a retaguarda. Cavaleiros, substantivados, fustigam a infantaria adversária. Aliados cercam os flancos adjuntos. O general do alto de seu carro averba as ordens para conquistar o promontório da Verdade!
Não parece estranho e afetado usarmos este vocabulário bélico para falar da linguagem? No entanto, este vocabulário já está inserido em nossa gramática quando falamos da sintaxe de uma língua, da co-ordenação das palavras e idéias na frase. De fato, a língua opera com táticas de linguagem, onde cada termo exerce uma função segundo articulações e relacionamentos com outros termos. Tais articulações e relacionamentos não são apenas funções e posições fixas de silogismos formais, mas aquilo que dispõe e promove a dinâmica, o movimento mesmo da frase. Um movimento que não se estrutura apenas no sentido da representação, isto é, das coisas à fala, mas que intervém no mundo e nele opera transformações práticas. Não apenas um movimento entre outros nas diversas atividades