Górgias versus parmênides
INTRODUÇÃO
O Ser surgiu como uma noção da tradição filosófica a partir do pensamento de Parmênides que, dessa maneira, tornou-se o iniciador da ontologia. Segundo Pierre Aubenque, nenhum pensador antes de Parmênides estabeleceu o ser como questão central e, depois dele, ninguém também o fez; assim, sobre esta questão, Parmênides não teve nem precursores nem discípulos imediatos. De acordo com Aubenque, a tradição ontológica só se prolonga com Platão e Aristóteles. Partindo daí, colocamos a seguinte questão: por que essa inovação no uso do verbo “ser” inicia uma tradição filosófica? No poema de Parmênides, existem vários tipos de utilização do verbo ser: copulativo, existencial, pessoal e impessoal. Contudo a inovação de Parmênides é justamente o emprego absoluto do verbo “ser” fazendo deste a condição do pensamento. O tratado de Górgias, uma polêmica antiparmediana, dividida em três diferentes partes, que utiliza a dialética para derrubar a tese de Parmênides, de que o ser é uno, é também uma façanha, porque o tratado de Górgias sobre o nada, está proporcionalmente ligado a tese de Parmênides. A discussão e entrelaçamento das argumentações destes filósofos é a proposição deste trabalho; na tentativa de acolhe-las e iluminá-las sem distorcer.
PARMÊNIDES – Pensando o Ser
Para melhor compreensão do novo sentido que Parmênides oferece ao emprego do verbo “ser”, abordarei o fragmento II de seu poema que nos permitirá acesso a esta questão. Neste fragmento a Deusa estabelece as duas vias de possibilidades: uma via da verdade, a outra é uma via da qual nada se pode apreender, a primeira via “é”, a segunda “não é”.
Pois bem, agora vou eu falar, e tu, prestes atenção ouvindo a [palavra] acerca das únicas vias de questionamento que são a pensar: uma, para o que é e, como tal, não é para não ser, é o caminho da Persuasão____ pois segue pela