Geração de 70
Pode dizer-se que à chamada Geração de 70 pertencem aqueles escritores da segunda metade do século XIX que a geraram no plano das ideias, estéticas ou outras, e não aqueles que a ela aderiram, prolongando-a historicamente. São eles:
Antero de Quental (1842-1891), Eça de Queirós (1845-1900), Oliveira Martins (1845-1894) e Ramalho Ortigão (1836-1915). Secundariamente, a ela pertencerão: Teófilo
Braga, Guerra Junqueiro, Jaime Batalha Reis, Guilherme de Azevedo, Gomes Leal,
Alberto Sampaio ou ainda Adolfo Coelho e Augusto Soromenho.
Ao nível histórico, a Geração de 70 situa-se no período que vai, grosso modo, até à proclamação da República, em 1910. A Regeneração separa o período de ideias revolucionárias do primeiro romantismo de Garrett e de Herculano, um período em que predomina a instabilidade política, social e económica, da época que se caracterizou essencialmente por uma estabilidade ligada intimamente ao pré-industrialismo de
António Maria Fontes Pereira de Melo.
Ao nível das teorias literárias, a Geração de 70 corresponde a um terceiro romantismo (segundo o ensaísta António Sérgio), tendo-se formado no meio académico de Coimbra e reagido contra o segundo romantismo, ou seja, o ultra-romantismo académico de António Feliciano de Castilho (Questão Coimbrã, que opõe Antero e
Castilho, em 1865), retomando de certo modo, ao nível das ideias políticas e culturais, o primeiro romantismo de Herculano e Garrett. No entanto, os elementos de influência ideológica são outros: Hegel, Marx, Proudhon, Comte, Michelet. Também os elementos estéticos de base implicam outras influências, sobretudo as do romantismo alemão de Heine, do romantismo visionário de Vítor Hugo na sua última fase, do realismo e do naturalismo de Zola e de Flaubert e do pré-simbolismo de Baudelaire.
O Realismo em Portugal, in Boletim Informativo da Fund. C. Gulbenkian, n.° 2, série V (1979)