Genese Polifonia
Ano II, número 1, março de 2008. ISSN 1982-3800
A GÊNESE DA POLIFONIA EM DOSTOIÉVSKI
João Batista Diniz Ferreira1
Jefferson Alves de Aquino2
Todos os heróis de Dostoiévski se interrogam sobre o sentido da vida. É nisso que eles são modernos: não temem o ridículo.[...] A existência é mentirosa ou ela é eterna.Se Dostoiévski se satisfizesse com esse exame, seria filosofo. Mas ele ilustra as conseqüências que esses jogos do espírito podem ter numa vida humana e é nisso que ele é artista
A. Camus
RESUMO
O presente trabalho tem a incumbência de desenvolver um estudo da obra do célebre escritor russo Fedor Mikhailovith Dostoiévski, tendo como paradigma a idéia de polifonia. O estudo do conceito de polifonia, desenvolvido a partir do crítico soviético Mikhail Bakhtin em sua obra
Problemas da poética de Dostoiévski, nos mostra que a obra dostoievskiana vem a ser um marco na concepção moderna de romance, e prova o quanto os personagens, concebidos como indeterminados, indefinidos, revelam a peculiar genialidade desse escritor russo. A gênese da polifonia foi aqui detectada através das obras O Duplo e Memórias do subterrâneo. A primeira é marcante pelo recurso de apresentar um só personagem com dupla personalidade, o que permitiu a Dostoiévski a representação dos desdobramentos da personalidade humana. Na segunda, encontraremos a figura do homem do subterrâneo, que se revela como uma reformulação complexa da interiorização do múltiplo em um só indivíduo.
Palavras-chave: Dostoiévski. Polifonia. Duplo. Subterrâneo. Existência.
Apresentação
Na segunda metade do século XX, o crítico soviético Mikhail Bakhtin desenvolveu a idéia de polifonia3 na literatura artística do escritor russo Fiódor
Mikháilovitch Dostoiévski (1821-1881). Bakhtin esclarece o seu ponto de vista sobre este autor, na sua magna obra “Problemas da poética de Dostoiévski”, denominando-o como um grande