O discurso feminino em textos jornalísticos de clarice lispector
Clarice Lispector exerceu diferentes funções na imprensa brasileira, especialmente na imprensa carioca. Além de escrever crônicas para o Jornal do Brasil, a escritora manteve colunas femininas em três diferentes periódicos do Rio de Janeiro, nos quais discorria sobre temas “fúteis” como moda, corpo, beleza, normas de etiqueta, comportamento, curiosidades, economia doméstica, entre outros. Com receio de manchar sua imagem diante da crítica que já a considerava uma escritora complexa e hermética, Clarice Lispector assinava tais colunas com os pseudônimos Tereza Quadros (no Comício, em 1952) e Helen Palmer (no Correio da Manhã, entre 1959 e 1961), além de assumir a função de ghost writer da famosa atriz e manequim da época Ilka Soares (no Diário da Noite, entre 1960 e 1961).
Clarice Lispector, como colunista em páginas femininas, começa a ser desvendada aos poucos, revelando a importância do estudo do gênero crônica, não só como uma modalidade que aproxima escritor e leitor, mas também como uma forma de acompanhar o processo criativo do artista, muitas vezes em sua gênese. Através dos exemplos que analisaremos nesse trabalho, é possível constatar que o artifício utilizado por Clarice Lispector para escrever colunas femininas, a criação das “colunistas clariceanas”, permitiu que desenvolvesse com mais ousadia suas habilidades de escrita, com uma linguagem mais leve dentro dos moldes da imprensa feminina.
Com uma comunicação popular e inaugural para a época, Clarice Lispector precisou de algumas adaptações, além de criar uma forma para atingir seu publico, mostrando uma grande desenvoltura com textos em tom coloquial, com linguagem simples e descontraída. Assim, estampam as colunas femininas dicas de como se manter jovem, bonita, esbelta (sempre sinônimo de elegância); como economizar, administrar o tempo e a casa; como tratar o marido, os filhos, os amigos e as