cultura
Cristiane Costa – Pena de aluguel: escritores jornalistas no Brasil 1904-2004
São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
Virgínia Maria Vasconcelos Leal
As relações entre o jornalismo e a literatura, com seus encontros e desencontros, conflitos e reconciliações, dão-se de diversas maneiras.
Pode-se pensar, por exemplo, em origens comuns (como é o caso do folhetim), usos e funções lingüísticas compartilhadas, gêneros híbridos, como a crônica e o romance-reportagem, a profissionalização do escritor, a mídia como espaço de estratégia de promoção de editoras e autores, a função da crítica literária e da resenha etc. Ou seja, as articulações entre o campo literário e jornalístico sempre foram muito estreitas, sendo objeto de várias pesquisas multidisciplinares. E, como demonstrou a pesquisa
“Personagens do romance brasileiro contemporâneo”9, as relações aproximam-se também na perspectiva da profissão dos autores publicados pelas três editoras pesquisadas (Rocco, Companhia das Letras e Record). A profissão mais citada é a de jornalista (36,4%), ao lado de professor universitário (16,4%) e escritor (13,3%).
O mérito de Pena de aluguel, de Cristiane Costa, é discutir tais articulações em aspectos múltiplos. Fundamentalmente, refez a pesquisa do jornalista e escritor João do Rio, realizada e publicada em 1904, quando perguntava aos intelectuais do período “se o jornalismo, especialmente no Brasil, é um fator bom ou mau para a arte literária”. A autora entrevistou 32 escritores jornalistas nos anos 90 e, a partir de seus depoimentos, dispôs-se a discutir algumas dessas tensas relações entre as duas áreas.
Como opção metodológica, ela considerou jornalistas somente aqueles que trabalham (ou trabalharam) em periódicos em suas principais rotinas, sem incluir os eventuais colaboradores. Outro recorte foi em relação ao gênero literário: apenas entrevistou aqueles que publicaram romances, contos e poesia. Diretamente ligada ao seu objeto de pesquisa