Genealogia da Moral
Marquês de Maricá
Vivemos em sociedade com o objetivo de viver os benefícios oferecidos pela mesma. Diante disso, procuramos a todo o momento nos tornar iguais entre os iguais, ou seja, pautamos a nossa conduta de acordo com as regras impostas pelo meio social, a partir de padrões morais previamente estabelecidos.
Somos capazes de fazer promessas, mas como alcançar este estágio (que nos permite conviver em sociedade, que nos torna um indivíduo soberano, conscientes do privilégio extraordinário da responsabilidade) se a própria natureza nos impõe a força ativa do esquecimento – essa força é uma forma de saúde forte, espécie de guardião da porta, de zelador da ordem psíquica, da paz, da etiqueta -? Para Nietzsche, a resposta a esta pergunta está relacionada com a memória, que está intimamente ligada com a capacidade de dar a palavra, é imprescindível para prometer. Para ser capaz de fazer promessas, o homem teve, antes de tudo, que desenvolver a faculdade de memória. Seria inimaginável confiar na promessa de alguém, se este não fosse capaz de recordar o compromisso firmado com outrem.
A memória, por sua vez, foi forjada pela dor, pelo ato de prometer, pela crueldade. Percebe-se claramente que a criação da memória não foi fruto de uma atividade pacífica e racional, muito pelo contrário. Ao homem foram impostos os mais variados sacrifícios para que ele se tornasse confiável para a comunidade.
Como fazer no bicho-homem uma memória? Como gravar algo indelével nessa inteligência votada para o instante, meio obtusa, meio leviana, nessa encarnação do esquecimento? ... Grava-se algo a fogo, para que fique na memória: apenas o que não cessa de causar dor fica na memória.
Foi com a ajuda de diferentes mecanismos – apedrejamento, esquartejamento, pisoteamento, empalhamento, dilaceramento -, que se chegou a esta espécie de memória, à razão. Quanto sangue e