Genealogia da Moral
1. Prólogo
“Nós, que somos homens do conhecimento, não conhecemos a nós próprios; somos de nós mesmos desconhecidos e não sem ter motivo.” (p.7).
“Felizmente aprendi a tempo a separar o preconceito teológico do moral, e não procurei mais a origem do mal atrás do mundo. Algo de escolaridade histórica e filológica [...] transmudou em breve meu problema neste outro: sob que condições inventou-se o homem aqueles juízos de valor, bom e mau? e que valor têm eles mesmos? Obstruíram ou favoreceram até agora o prosperar da humanidade?” (p.9).
“No fundo interessava-me algo bem mais importante do que revolver hipóteses, minhas ou alheias, acerca da origem da moral [...] Para mim, tratava-se do valor da moral – e nisso eu tinha de me defrontar sobretudo com o meu grande mestre Schopenhauer [...] Tratava-se, em especial, do valor do "não-egoísmo", dos instintos de compaixão, abnegação, sacrifício, que precisamente Schopenhauer havia dourado, divinizado, idealizado, e por tão longo tempo que afinal eles lhe ficaram como "valores em si", com base nos quais ele disse não à vida e a si mesmo.” (p.11).
“Em suma, desde que para mim se abriu essa perspectiva, tive razões para olhar em torno, em busca de camaradas doutos, ousados e trabalhadores (ainda hoje olho). O objetivo é percorrer a imensa, longínqua e recôndita região da moral da moral que realmente houve, que realmente se viveu com novas perguntas, com novos olhos [...]” (p.13).
2. PRIMEIRA DISSERTAÇÃO: “Bom e mau” “bom e ruim”
“Esses psicólogos ingleses, aos quais até agora devemos as únicas tentativas de reconstituir a gênese da moral [...] que querem eles afinal? [...] Voluntariamente ou não, estão sempre aplicados à mesma tarefa, ou seja, colocar em evidência a partie honteuse (o lado vergonhoso) de nosso mundo interior, e procurar o elemento operante, normativo, decisivo para o desenvolvimento, [...] numa cega e casual engrenagem ou trama