Fé e sociedade
D. Lucas Moreira Neves, O.P.*
Que tipo de fé adotar, professar e viver nesta virada de século de milênio? A pergunta nada tem de ociosa e de supérflua. Ela interessa, com maior ou menos intensidade e em nível mais ou menos profundo, todas as religiões, igrejas ou grupos religiosos. Dizem muitos analistas, com frutos de pesquisas, de congressos e de teses doutorais, que a Igreja Católica é a que, com mais afinco e melhor material de reflexão, se tem lançado na busca da resposta justa à indagação. A ser verdadeira a observação, formulada até por não-católicos, ela honra a Igreja elogiada sem significar desdouro para nenhuma outra.
Esta Igreja Católica sabe que, se em algum tempo, a fé se impunha e impunha a sua visão de mundo e do homem em vastas regiões da terra e em segmentos decisivos da sociedade, por injunções de tipo sociológico, político ou cultural, não é o mesmo que acontece na etapa atual da modernidade. O contrário seria mais verdadeiro: as injunções vão no sentido de dispensar, quando não de recusar, a fé e suas inspirações para a organização das microssociedades e da sociedade como um todo.
Sabe a Igreja também que, sendo o pluralismo religioso, tanto quanto o político e cultural, um ingrediente determinante da vida em sociedade, este é um tempo em que a fé, mais do que nunca, deve ser fruto da livre opção e adesão de cada pessoa. Não condicionada por imperativos de qualquer origem ou natureza.
Neste contexto, é forçoso observar que a fé pode revestir duas atitudes opostas. Pode ser, de um lado, uma fé não só pessoal (dimensão válida e positiva), mas individualista com tendência a se tornar privatista e, de outro lado, uma fé que leva a pessoa a inserir-se em uma comunidade de fé. O primeiro tipo de fé esgota-se, na maioria dos casos, em expressões puramente religiosas, diante de Deus e das realidades que põem em contacto com Deus: oração, liturgia, sacramentos, catequese... O segundo – único