Fundamentos filosóficos da educação
Kayapó-Xikrin do Bacajá1
Clarice Cohn
Mestre em Antropologia Social – USP
RESUMO: Este artigo busca entender o processo de desenvolvimento infantil entre os Xikrin através de sua própria concepção de criança e do crescimento, além de uma análise que busca focar o modo como as crianças intervêm ativamente nesse processo. Assim, o artigo filia-se a uma nova ênfase da antropologia contemporânea, aquela que recupera os estudos sobre a infância em outras sociedades a partir de concepções de Pessoa e da participação ativa da criança em sua própria inserção na vida social, recusando a visão da socialização como meio de incutir em “imaturos”, que imitam e miniaturizam a vida adulta, valores e comportamentos socialmente aceitos. PALAVRAS-CHAVE: antropologia da infância, socialização, aprendizado, transmissão de conhecimentos.
Introdução
Nesse artigo, propõe-se revisitar os Xikrin, subgrupo Kayapó, de língua
Jê, habitante do sudoeste do Pará, para discutir o modo como eles concebem a infância e o desenvolvimento infantil, assim como o aprendizado. Nessa nova abordagem, recorremos às análises que efetuam uma revisão do modo como a antropologia tratava da infância nas sociedades que estudava. A etnografia sobre as concepções xikrin e da condição de participação das
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CLARICE COHN. CRESCENDO COMO UM XIKRIN crianças é apresentada de modo a demonstrar como, também para eles, as crianças devem ser vistas e entendidas em sua especificidade, e não como adultos em miniatura.
As produções recentes na antropologia que se voltam ao aprendizado e à infância têm ressaltado a importância de se atentar para a participação ativa das crianças na vida social e na construção de sentidos a partir de sua vivência e interação. Christina Toren (1990, 1999) propõe que a antropologia deva se voltar ao estudo de uma “microhistória”, em que o entendimento sobre o mundo social