Freud - o mito do individuo neurotico
Antonia Claudete Amaral Livramento Prado
CLaP - Centro Lacaniano de Pesquisa em Psicanálise
Seminário de Agosto de 2009
A psicanálise, devo lembrar a título de preâmbulo, é uma disciplina que no conjunto das ciências se apresenta a nós com uma posição realmente particular. [...] não é uma ciência propriamente dita, [...] ela é simplesmente uma arte.2
Lacan isola a psicanálise do campo das ciências para aproximá-la das artes liberais, sublinhando que a psicanálise não é uma experiência objetivável, mas que ela se ocupa da relação fundamental da medida do homem [...] consigo mesmo – relação interna, fechada sobre si mesma, inesgotável, cíclica, que o uso da fala comporta por excelência3.
Esse texto de Lacan situa-se em um momento histórico marcado como o início do seu ensino, com a apresentação de Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise, no Congresso de Roma, em 1953, momento da primazia do simbólico.
A partir da fala, enquanto aquela que constitui uma verdade que não pode ser dita enquanto fala, da relação intersubjetiva que faz o homem, em sua essência, ser o que é, buscando fórmulas que permitam conhecer essa essência, Lacan toma o mito como objeto de estudo de algo que constitui o discurso, e que está presente no seio da experiência analítica. É apenas de forma mítica que a fala pode exprimir a verdade objetiva, contudo sem apreendê-la, é pelo mito que a verdade pode ser construída.
O mito individual
A expressão ‘mito individual do neurótico’ foi utilizada por Lacan a partir daquela criada e apresentada por Claude Lévi-Strauss, em uma conferência de 1949: ‘mito individual’. Lacan articula as idéias de Lévi-Strauss ao texto freudiano O romance individual do neurótico (1909) para analisar o caso do Homem dos Ratosi e uma relação amorosa vivida por Goethe em sua adolescência. Nessa conferência, Lévi-Strauss aborda o mito individual referindo-o ao xaman e ao psicanalista, em relação aos efeitos