Foucault
TODD MAY
Passaram-se vinte e um anos desde a morte de Foucault. Pense por um momento no que isso significa. Em 1984 não havia internet, não havia DVDs, não havia telefones celulares, CDs estavam somente vindo a existência, o gravador de vídeo pessoal [TiVo] era um sonho distante e nós podíamos dirigir sem ter de lidar com os utilitários esportivos. Muitos afirmariam que era um mundo diferente. Meus filhos fazem essa afirmação e expressam admiração com fato de que nós, de alguma maneira, fomos capazes de conduzir nossas vidas sob tais condições.
E ainda, quase uma geração após a morte de Foucault, nós retornamos a esse pensador, esse historiador, esse filósofo, como se ele ainda falasse conosco, como se nós ainda não tivéssemos exaurido o significado de suas palavras. De repente, nos confrontamos com a seguinte questão: o que fazer de Foucault agora? O que nos resta a aprender dele? O que nos resta para pensar e agir no rastro de seus escritos?
Para começar a lidar com tais questões, permitam-me dar um passo atrás e fazer ainda outra questão. É uma questão que se associa à disciplina da filosofia, mas que não deveria se associar. Ou pelo menos, não deveria estar associada tão somente à disciplina da filosofia. Deveria associar-se a todas as disciplinas e às nossas próprias vidas. Para ninguém que está lendo isto, a questão parecerá estranha. A questão é: Quem somos nós? Questão que nas mãos de Foucault se transforma numa outra questão, e por razões que valeria a pena nos determos.
Considere a resposta à questão de quem somos nós, oferecida pelo filósofo clássico, René Descartes. Descartes diz que somos a combinação de uma substância mental que pensa e uma substância física que age, uma mente e um corpo: dois tipos de entidade separadas que, por alguma razão, acabam se encontrando na glândula pineal. Para Descartes, ser quem somos é essencialmente ser um certo tipo de ser, um certo tipo de arranjo ontológico. Para nós, talvez haja aqui outras