Paulina fora de férias. Ficara na casa de praia. Como o piano lhe fazia falta… Não tinha ninguém com quem desabafar. Sentada no areal, ao lado de Otília, lá estava ela. Durante as conversas desinteressantes de Otília, Paulina recordava momentos da sua vida. Lembrou-se, por exemplo, do dia em que o piano chegara à sua casa. Como vivia num apartamento, foi um pouco difícil levar o instrumento para lá. Desmontaram-no todo e foi em várias tabuinhas que ele chegou à pequena sala de Paulina. Este começou a aprender a tocá-lo e, ao fim de algum tempo, tornaram-se grandes amigos. Quando a Paulina visitava a avó Celeste, passava a tarde a beber chá e a comer bolachas. Durante este ritual, Paulina observava as fotografias amareladas dentro das molduras, cuidadosamente expostas em cima das várias mesinhas. Também gostava de ir para a cozinha conversar com Emília, a empregada da avó. Paulina era órfã de pai e, por isso, a avó Celeste tivera muito desgosto na perda do filho, que morrera muito novo. A partir daí, ela ficou uma pessoa muito dura e achava que a nora tinha feito mal em casar-se de novo. O padrasto de Paulina, a quem esta chamava Tio António, era muito meigo para com ela. Por isso, o amava como amara o pai. Embrenhada nestes pensamentos, Paulina nem ouviu o Tio António chamar por ela. Desafiou-a que quem ganhasse a corrida comeria um enorme gelado. Paulina estava feliz. Não importava seTio António era seu padrasto, seu tio, seu primo ou outra coisa qualquer. Estava feliz… Só isso importava…