filosofia
Em seus trabalhos, Ludwig Feuerbach se preocupa em grande parte com o fenômeno religioso; ele faz parte da tradição dos discípulos de Hegel que se dedicaram à crítica da religião, mas marcado por uma inovação: seu materialismo. Feuerbach crê que na religião há uma carência da consciência de si do homem. Essa carência é a base da religião, onde o homem (religioso) aliena a sua essência; essa fase religiosa corresponde a uma “essência infantil da humanidade”, já que este homem (infantil) adora sua própria essência sem reconhecê-la como tal. Feuerbach acrescenta que entre o humano e o divino não há uma oposição de fato, real, mas sim ilusória. A contradição fundamental está no homem, porque não há uma essência religiosa. A religião é uma abstração das limitações da vida humana, corporal. Não há qualidades em si na vida divina.
Esse homem infantil em Feuerbach é um ser que teme sua finitude e as limitações (naturais) que sofre todo ser humano. O homem possui uma essência “infinitamente diversa, infinitamente determinável, mas exatamente por isso sensorial” (Feuerbach, 1988, p. 65). O homem como homem sensorial, pleno de sentidos, é um ser rico em determinações; o engano do homem religioso é criar um ser espiritual e, portanto, abstrato. Esse homem religioso teme ser um homem finito, determinado. O que ele reconhece no ser divino são as qualidades de sua própria essência (que Feuerbach denomina “qualidade essencial do próprio homem”), criando uma “contemplação essencial” que o anima e o determina (de fora).
O mistério dos vários atributos divinos encontra-se no próprio homem, em sua essência infinitamente diversa, determinável e sensorial. É através dos sentidos que o ser humano é concebido como ser infinito, pleno de determinações. Dessa forma, podemos conceber a religião como uma cisão no homem: o ser divino é aquilo que o homem não é. Essa cisão entre o ser divino e o homem representa uma cisão do homem com sua própria essência (oculta). O