Filme Cria Cuervos
Direção: Carlos Saura
Cria Cuervos se apresentou para mim como um filme dramático, de compreensão complexa e profunda. Trata-se de uma família composta por três filhas, que perdem a mãe muito cedo e que ainda na infância vivem também a perda do pai. As filhas ficam sob os cuidados da empregada e de uma severa tia, irmã da mãe. A atriz principal, Ana, é a filha do meio, apresenta um olhar para a vida sempre de forma mais introspectiva comparado às irmãs e atenta aos acontecimentos ao seu redor, deixando um pouco de lado a criança que ainda é e as brincadeiras pertinentes desta fase para viver internamente os dramas da vida adulta. Ana tem um olhar marcante e distante, parecendo querer captar o que se passa além das palavras ditas pelas pessoas a sua volta. Além de estar atenta a tudo, presencia muitas cenas envolvendo a espera de sua mãe pela chegada do pai em casa, além de brigas entre eles. Seguindo ao mesmo raciocínio de discursos escutados, Ana internaliza que seu pai fora o grande culpado pela doença e consequente morte de sua mãe. Desta compreensão dela, refleti quantas vezes comentamos ou ouvimos comentários sobre a vida de um casal onde procuramos definir quem é o vilão e quem é a vítima da relação. Esquecendo-nos que a vida de um casal é um ciclo que se retroalimenta e que ambos são igualmente responsáveis pela colheita desta relação. Os registros e lembranças de Ana referente ao seu passado, de quando ainda convivia com sua mãe, estão muito presentes e percebe-se quão vivos estão em sua mente os momentos de carinho e amor entre ela e a mãe e o quanto a presença desta mãe a faz falta. Por outro lado, enquanto teve seu pai presente, a relação entre eles, pai e filha, pareceu sempre ser distante, proporcionando um sentimento de abandono não só à Ana, mas com a família de forma geral. Por culpar seu pai pela ausência/morte de sua mãe, deseja matá-lo e fantasia que, com um pó branco que ouvira a mãe mencionar numa