Fichamento BAGNO
Acadêmica: Jeovana Karla de Oliveira Dias
BAGNO, Marcos. A concepção abstrata da língua. In: BAGNO, Marcos. Língua materna: letramento, variação e ensino. Marcos Bagno, Gilles Gagné, Michael Stubbs. São Paulo: Parábola, 2002, p. 19-27.
“[...] Evidentemente, não se trata propriamente de uma ‘língua’, mas de uma idealização nebulosa de correção linguística, à qual se dá geralmente o nome de ‘norma culta’. Essa ‘norma culta’ acaba sendo identificada, no senso comum e na prática pedagógica tradicional, com a própria noção de ‘língua portuguesa’ ou de ‘português’, numa equivocada sinonímia de graves consequências para o individuo e para a sociedade: o uso que não está consagrado nessa ‘norma culta’ [...] simplesmente ‘não existe’ ou ‘não é português’ [...]” p. 19-20.
“Essa pedagogia tradicional opera com a antiga noção filosófica da tabula rasa, como se o primeiro dia de criança na escola fosse também seu primeiro dia de contato com sua língua materna – despreza-se quase totalmente o conhecimento da língua que a criança já traz de sua atividade linguística no seio da família e do grupo social em seus primeiros anos de vida, desconsidera-se seu uso intuitivo, eficaz e criativo do recurso da língua” p. 21.
“[...] [É] uma concepção que trabalha com abstrações. É muito comum falarmos sobre ‘a língua’, como se ela fosse um sujeito animado, uma entidade viva [...]. Assim, essa ‘língua’ é pensada como se não estivesse neste mundo, como se fosse um objeto místico a ser buscado sem jamais poder ser alcançado [...]. ‘A língua’ é tratada como se existisse numa outra dimensão, supranatural, à maneira das Formas da filosofia platônica, que só podem ser captadas pelo intelecto e não pelos sentidos [...]” p. 22-23. “[...] ‘[A] língua’, como uma ‘essência’ não existe: o que existe são seres humanos que falam línguas, ‘os indivíduos que constituem o todo da população’. A língua não é abstração: muitos pelo contrário, ela é tão concreta