Famílias homoparentais recompostas femininas
Simone Aparecida Noronha[1]
Este trabalho teve como principal objetivo analisar a circulação pulsional[2] existente entre os membros de famílias homoparentais recompostas femininas. Ou seja, analisar como desejos e afetos são direcionados, construindo novos laços afetivos. A pergunta chave foi: a circulação pulsional nessa família é estabelecida da mesma forma como o é nas demais, ou há alguma diferença? Além disso, pretendia-se investigar como e por quem as funções parentais eram exercidas neste contexto e quais são as implicações da homoconjugalidade para os atores envolvido. A metodologia utilizada foi a da pesquisa qualitativa, centrada nas narrativas dos sujeitos, coletadas por meio de entrevistas semi-estruturadas. Foram entrevistadas duas famílias, que atendiam ao recorte estabelecido, a família de Vera e a de Ellem[3]. Para análise dos dados adotamos uma ótica transdiciplinar, para as questões do campo da subjetividade, que dizem respeito ao desejo, à singularidade e à circulação pulsional, usamos os conhecimentos psicanalíticos. Para as demais, usamos os conhecimentos sócio-históricos. A família homoparental é formada por pelo menos um homossexual que assume a paternidade e/ou a maternidade, buscando atender cotidianamente as demandas da constituição psíquica do filho e sua formação humana. A “família recomposta” é aquela formada após a dissolução de uma união conjugal, quando um dos membros forma uma outra conjugalidade. Sendo assim, a “família homoparental recomposta feminina” é aquela constituída por mulheres que vivenciaram relações heterossexuais, tiveram filhos, separaram-se e recompuseram suas vidas amorosas, a partir do redirecionamento de seu desejo, ao lado de outras mulheres. Ou seja, o filho pré-existente a relação homoconjugal não é um filho do desejo desta parceria. Notamos que é diferente um casal desejar (adotar ou inseminar) um