Famintos: Romance de um povo

1797 palavras 8 páginas
A jovem literatura cabo-verdiana se inicia no século XIX, com os escritores

nativistas, mas o grande marco para a cultura local se dá em 1936 com a criação da

revista Claridade, que acaba com o dilema cultural entre metrópole e colônia e se

transforma em referência literária no país. Na intenção de se afastar da influência

portuguesa, os cabo-verdianos se aproximam da cultura brasileira, tão próxima à

deles próprios, que vive um momento de expansão desde a Semana de Arte

Moderna, em 1922. A admiração pela literatura brasileira faz surgir o movimento do

pasargadismo, enaltecendo cada vez mais a cultura do Brasil e negando quase que

completamente o cânone português e até a própria cultura criola.

A partir da década de 1960, entretanto, os intelectuais de Cabo Verde

iniciam o chamado anti-pasargadismo, movimento literário que passa a ver o

arquipélago como pátria e dá ainda mais força aos movimentos de independência

que estão em vigor desde a década de 1950. As mazelas do país começam a ser

vistas de forma realista e há o surgimento de críticas pesadas sobre a precária

situação social de Cabo Verde, evidenciando a negligência de Portugal para com

sua colônia.

O escritor Luís Romano foi consagrado como um dos grandes expoentes do

anti-pasargadismo, aderiu aos movimentos de independência de Cabo Verde,

exerceu atividades de direção na PAIGC (Partido Africano para a Independência da

Guiné e Cabo Verde) e, em 1962, publicou o romance ultra-realista Famintos.

O livro se tornou um marco na literatura cabo-verdiana por ser um dos

primeiros a descrever em uma narrativa realista as dificuldades diárias que a

população cabo-verdiana enfrentou por conta da fome, da falta de recursos naturais,

da ausência de um governo engajado em ajudar sua população e do abuso e poder

das classes mais privilegiadas da sociedade cabo-verdiana. Famintos se passa nos

anos 40, década conhecida por

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