Famintos: Romance de um povo
nativistas, mas o grande marco para a cultura local se dá em 1936 com a criação da
revista Claridade, que acaba com o dilema cultural entre metrópole e colônia e se
transforma em referência literária no país. Na intenção de se afastar da influência
portuguesa, os cabo-verdianos se aproximam da cultura brasileira, tão próxima à
deles próprios, que vive um momento de expansão desde a Semana de Arte
Moderna, em 1922. A admiração pela literatura brasileira faz surgir o movimento do
pasargadismo, enaltecendo cada vez mais a cultura do Brasil e negando quase que
completamente o cânone português e até a própria cultura criola.
A partir da década de 1960, entretanto, os intelectuais de Cabo Verde
iniciam o chamado anti-pasargadismo, movimento literário que passa a ver o
arquipélago como pátria e dá ainda mais força aos movimentos de independência
que estão em vigor desde a década de 1950. As mazelas do país começam a ser
vistas de forma realista e há o surgimento de críticas pesadas sobre a precária
situação social de Cabo Verde, evidenciando a negligência de Portugal para com
sua colônia.
O escritor Luís Romano foi consagrado como um dos grandes expoentes do
anti-pasargadismo, aderiu aos movimentos de independência de Cabo Verde,
exerceu atividades de direção na PAIGC (Partido Africano para a Independência da
Guiné e Cabo Verde) e, em 1962, publicou o romance ultra-realista Famintos.
O livro se tornou um marco na literatura cabo-verdiana por ser um dos
primeiros a descrever em uma narrativa realista as dificuldades diárias que a
população cabo-verdiana enfrentou por conta da fome, da falta de recursos naturais,
da ausência de um governo engajado em ajudar sua população e do abuso e poder
das classes mais privilegiadas da sociedade cabo-verdiana. Famintos se passa nos
anos 40, década conhecida por