familias brasileiras no periodo da ditadura
Os tiros na parte externa da casa dos Lucena em Atibaia (SP) assustaram a mãe e os filhos, que se esconderam embaixo das camas. Com o fim dos disparos, Adilson correu para fora e viu o pai baleado. "Ele estava sem camisa, tinha recebido muitos impactos de bala. Entrei chorando dentro de casa. Depois saiu minha mãe com a Telma no braço e eu senti um tiro. Acho que deram o último tiro de misericórdia nele."Adilson afirma que foi levado mais de uma vez até a casa em que viviam, ainda suja de sangue e toda bagunçada, para ser interrogado pelos agentes. "Pegaram uma bainha de facão do meu pai e me bateram. Disseram que já tinham feito isso com outras crianças. Chorei muito."
O dia mais triste da vida da família também marcava o início de uma saga de perseguição, tortura e humilhação. Os três foram levados a uma delegacia policial no município, onde Damaris passou pelas primeiras torturas. "Fomos tratados como delinquentes. Tinha muita gente. A notícia correu a cidadezinha", relembra Adilson, hoje professor de espanhol.
Os filhos foram tirados da mãe pelos agentes da repressão, que não conseguiam achar um novo lar para as crianças em orfanatos e instituições de caridade. "Ninguém queria ficar com a gente. Diziam que éramos filhos de terroristas", conta Adilson
As crianças acabaram sendo levadas para uma instituição de menores na zona leste da capital, "praticamente uma prisão", nas palavras de Adilson, que foi separado das irmãs. "Eram muitos maus-tratos, castigos. Não deixavam a gente ver televisão, desenhos animados. As portas tinham grades."
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