Eu era surdo e não sabia
Há muitas centenas de milhares de anos, possivelmente no período do desenvolvimento da Terra que os geólogos denominam terciário, vivia em algum lugar da zona tropical uma raça de macacos antropomorfos extraordinariamente desenvolvida. É possível que, como conseqüência direta de seu gênero de vida, devido ao qual as mãos, ao trepar, tinham que desempenhar funções distintas das dos pés, esses macacos foram se acostumando a prescindir de suas mãos ao caminhar pelo chão e começaram a adotar cada vez mais uma posição ereta. Foi o passo decisivo para a transição do macaco ao homem.
Embora o número e a disposição geral dos ossos e dos músculos sejam os mesmos no macaco e no homem, a mão do selvagem mais primitivo é capaz de executar centenas de operações que não podem ser realizadas pela mão de nenhum macaco, o que é fruto de um largo período de transformações. Ao longo do tempo as mãos tornaram-se cada vez mais aptas a realizar atividades mais complexas e a realização destas tornaram estes membros também mais complexos, distanciando-as das mãos dos mais evoluídos primatas. Neste sentido, as mãos não são apenas a principal via de mediação, mas também produto desta mediação. É importante pontuar duas questões a partir do que foi tratado acima. Primeiro, visto que as mãos não estão dissociadas do corpo, as transformações pelas quais estas passaram estenderam-se as demais partes do corpo humano. Assim ao longo de milhares de anos, o homem transforma e é transformado em sua interação com a natureza. Segundo, e ainda mais importante é o quanto é fundamental tal interação, a qual é definida como trabalho segundo Marx. É este trabalho, de acordo com Engels em seu texto Sobre o papel do trabalho na transformação do macaco em homem, a condição básica e fundamental de toda vida humana.
Essa relação do homem com a natureza, contudo, não significa que o mundo dos homens esteja submetido às mesmas leis e processos do