etica e linguagem
1- Epistemologia do conhecimento ético
Uma das teses fundamentais de Paul Churchland sobre a natureza do conhecimento moral é a de que este não tem que ter uma natureza diferente da do conhecimento em geral: “a cognição moral e social, bem como o comportamento moral e social são actividades do cérebro, não menos que qualquer outro género de cognição e comportamento.”1 Por conseguinte, o conhecimento moral também não tem uma origem e uma natureza diferentes das do conhecimento científico. De facto, segundo o autor, uma vez que não possuímos nenhum órgão dos sentidos que seja específico da aquisição do conhecimento moral, se quiséssemos distinguir os dois tipos de conhecimento teríamos que pressupor que adquirimos o conhecimento moral por alguma via não empírica. Isso equivaleria porém a considerar que o mundo ético seria um ‘outro mundo’, diferente do mundo natural, isto é, nas palavras de Churchland, que “a verdade das proposições morais se fundamenta em algo diferente do modo como o universo material está estruturado”.2 Ora, tal não é por ele aceitável, provavelmente por considerar que seria absurdo acreditar que existe alguma forma meta-empírica de conhecimento moral ou de acesso a ele. Por conseguinte, o autor defende que “as verdades morais são basicamente tão fortes e objectivas como quaisquer outros géneros de verdades, mas esta objectividade não se fundamenta na razão pura ou em qualquer outra base não empírica. Ela fundamenta-se de forma muito semelhante ao modo como se fundamenta a objectividade dos factos científicos”.3 Se, de facto, renunciarmos à fundamentação religiosa e filosófica do conhecimento ético, este, do mesmo modo que o conhecimento científico, só pode emergir dos factos empíricos. Isto tem como imediata consequência que qualquer alteração na concepção da estrutura da ciência, nomeadamente quanto ao modo como o nosso conhecimento científico emerge dos factos