estudante
António José Telo
Director do Instituto da Defesa Nacional
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Este texto representa uma opinião exclusivamente pessoal, embora as preocupações aqui expressas venham a ter reflexos no conteúdo desta revista (só a partir de 2009).
Verão 2008
N.º 120 - 3.ª Série pp. 9-26
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Um Mundo que Mudou
Dizer que o mundo está a mudar é um lugar comum. A frase é sempre correcta, muito em particular, desde os já distantes anos da queda do muro. O que acontece, porém, é que o mundo efectivamente mudou algures em 2008. Para ser mais exacto,
2008 é um ano de múltiplas transições, ou, caso se prefira, é o ano em que uma série de processos de longo ou curto prazo se aceleraram ou intensificaram a ponto de entrarem numa nova fase.
Os processos são vários e de índole, ritmos, alcances e significados muito diferentes, embora, por sorte ou por azar, se acumulem e sobreponham neste que foi um dos anos mais importantes das últimas décadas. Vale a pena explicar um pouco melhor quais são, pois ainda não existe um consenso à volta da interpretação do que está a acontecer perante os nossos olhos.
Um Novo Sistema Internacional
Uma das mais importantes mudanças foi a transição do sistema internacional.
Vivemos ainda no mesmo sistema mundial que começou com o fim da 2ª Guerra
Mundial, mas o sistema internacional mudou em 2008, sendo este possivelmente o último do actual sistema mundial.
Desde a queda do muro vivíamos num sistema internacional que por facilidade se classificava de unipolar, embora nunca o tivesse efectivamente sido. Os EUA permaneceram como o único pólo activo de dimensão global a partir da década de 1990 e, com o seu desempenho na primeira guerra do Golfo (1991), houve uma altura em que efectivamente deram a aparência de se estar a caminhar para a consolidação de um sistema unipolar. Simplesmente, mesmo então havia sintomas que seria um sistema unipolar incompleto e imperfeito. O que aconteceu é que mesmo esse não se