Estratificaçao social
Temas e conceitos nas teorias da estratificação social
INTRODUÇÃO Em trabalho anterior sobre classes sociais 1 procurei debater certas questões teóricas de cuja satisfatória solução me parecem depender os usos pertinentes, na pesquisa empírica, desse instrumento conceptual. E são múltiplos, como se sabe, os efeitos de ocultação, de deformação ou de reducionismo a que têm conduzido aplicações ritualizadas que se reclamam da teoria das classes. Valerá a pena — e é esse o propósito deste texto — avaliar um outro quadro analítico, de diversos protocolos e alcance, que se costuma designar pelo termo estratificação. Aí se englobam propostas teóricas com inúmeras variantes, mas que, no conjunto, também elas se destinam a contribuir para o conhecimento das estruturas e dos processos sociais, para a explicação das práticas e a caracterização dos respectivos protagonistas. A perspectiva crítica que conduz a exposição, e que procurará articular os enunciados teóricos e os seus resultados empíricos a pressupostos epistemológicos que, de algum modo, em uns e outros se reflectem, não deve fazer crer num qualquer maniqueísmo visando separar a boa da má tradição sociológica. A pertinência duma teoria avaliar-se-á, não tanto pela elegância das formulações, pela lógica interna dos conceitos ou pela coerência das proposições, como pela fecundidade que revela na produção de conhecimentos sobre o real. E, para confirmar a ilegitimidade de inferir ligações mecânicas entre epistemologia, teoria e pesquisa, basta ter em conta a frequência com que «boas» posturas epistemológicas e «boas» formulações teóricas conduzem, na sua aplicação prática, a progressos nulos de conhecimento, sendo igualmente muitas vezes certo que o trabalho científico escreve direito por linhas tortas. Max Weber constitui ilustração de feliz descoincidência entre certos princípios analíticos expressos —tributários, como veremos, duma epistemologia marcada pelo