Essência e Aparência
ESSÊNCIA E APARÊNCIA NO FAUSTO DE GOETHE:
UMA RELAÇÃO DIALÉTICA
Ana Cristina Pinto da Silva (Mestranda Ciência da Literatura-UFRJ)
“Unser ganzes Kunststück besteht darin, daβ wir unsere Existenz aufgeben, um zu existieren.” (Goethe, 1998 )
Este trabalho tem por objetivo abordar a questão da essência e da aparência na obra Fausto de Goethe (1749-1832). Partimos do princípio de que a relação entre o ser e o parecer é uma constante em toda obra – cuja riqueza símbólica e variedade de temas transformaram-na em alvo de inúmeras e contraditórias interpretações. Buscamos no pensamento de
Hegel (1770-1831), Marx (1818-1883) e Lukács (1885-1971) o embasamento teórico que nos permita refletir sobre as questões a serem levantadas no decorrer da análise.
Oscilando entre os últimos gemidos de um feudalismo agonizante e os primeiros acordes de um capitalismo crescente, o ser humano representado no Fausto parece perdido em meio às contradições do mundo moderno. Um estágio da história havia sido superado: com o fim do regime feudal, a esperança de um novo mundo se lhe apresentava radiante. Surgia o sistema capitalista, com suas promessas – e suas muitas faces. Por faces do capitalismo entendemos o seu lado positivo e negativo, criador e destruidor, verdadeiro e ilusório. Neste ponto, a relação dialética entre essência e aparência ganha destaque especial, considerando-se o pensar dialético enquanto compreensão da realidade como essencialmente dinâmica e palco de idéias conflitantes, estando os fatos sociais e históricos em permanente processo de transformação e superação. A abordagem dialética requer, pois, uma visão de conjunto, do Todo, e isto era reconhecido já na antigüidade clássica, pelos gregos, os quais utilizavam a dialética como caminho para chegar à essência das coisas e dos seres (cf Platão, 1964: livro VII).
Entendemos essência, neste contexto, como o freqüentemente oculto, o que não vemos ou porque não podemos, ou