ESCRAVIDÃO EM KÁTIA MATOSO
MATTOSO, Katia M. de Queirós.São Paulo: Brasiliense, 1990. (p. 122-172)
AS SOLIDARIEDADES:
- “As regras do jogo nessa sociedade brasileira, cuja economia se fundamenta por inteiro na escravidão, estão aparentemente em mãos dos senhores. No entanto, o escravo pode aceitar ou recusar as regras desse jogo. (...) é suficiente que senhores e escravos vivam bastante tempo juntos para que este último crie seus próprios refúgios e aprenda o espaço físico no qual se pode movimentar e as liberdades pessoais que pode gozar.” (p. 122)
- “(...) o senhor é consciente de que a educação de um trabalhador leva tempo e ele, sozinho, não pode fazer tudo. Conta com a ajuda da Igreja, mas conta igualmente com todo o grupo escravo. Mundo dos homens livres e mundo dos escravos opõem-se, mas estão também em estreita dependência um do outro.” (p. 122, 123)
- “(...) um crioulo vale quatro boçais! Os crioulos mulatos são os mais apreciados, embora tenham freqüentemente a fama de orgulhosos e violentos. (...) Seja como for (...) o escravo é sempre escravo aos olhos da lei.” (p. 123)
• Uma família para o escravo? A autora fala que a relação entre o escravo e o seu senhor é muitas vezes mais amena que a relação entre dois escravos, ou entre um escravo e um liberto. Também fala que o escravo tem espírito de solidariedade e associativismo. Segundo ela, a sociedade brasileira foi formada muito tempo pela família patriarcal, que incluía:
- “(...) tias, tios, sobrinhos, irmãs e irmãos solteiros, vagos primos, bastardos, afilhados, sem contar os ‘agregados’. (...) Também os escravos fazem parte da família.” (p. 124)
- “No campo, os agregados trabalham a terra do chefe da família, que lhes dá alimento e proteção. (...) na cidade, são trabalhadores cujo labor acrescenta à renda da família.” (p. 124)
- “A família passa a ser, desta maneira, o campo de experiências em que o escravo deve aprender a viver sua vida de eterna criança.” (p. 124)