A lírica tradicional - A medida velha É, porém, um dos encantos da leitura dos Cancioneiros o verificar que poetas aristo-cráticos, o próprio rei D. Dinis, não esterilizam o engenho na adaptação da lírica pro-vençal. Os poetas medievais, porém, nesses tempos de menor desnivelamento de cul-tura entre o escol e o povo, ao mesmo tempo que simplificam a poesia provençal,estilizam ou imitam a lírica, de discutida origem, que anda na boca do povo; e de modo tal a imitam, que, salvo uma ou outra subtileza psicológica, lhe mantêm a gra-ça natural, a frescura e perfume silvestres. Realizam, assim, o que há de mais belo nos Cancioneiros medievais.Mas era entre o povo, seguramente, que se conservavam vivos os velhos temas e formas da lírica provençal.É sabido qual o traço essencial das poesias de gosto popular dos Cancioneiros. São,em geral, confidências, apelos, líricas expansões, já de contentamento de amores correspondidos, já de chorosos queixumes ou ansiosas apreensões de donzelinhas namoradas. Em qualquer caso, são elas as figuras centrais dos pequeninos quadros bucólicos ou marítimos. Quando diretamente se não dirigem aos namorados,podem as confidentes ser as irmãs, as amigas e até as mães, complacentes às vezes,outras irritadas; raro o poeta. Mas também sucede, no ingénuo naturalismo antro-popático que as inspira, serem, por vezes, os estorninhos do avelanado, as flores do verde pinho, as cervas do monte, as ondas do mar. Castas, em geral; contudo, uma ou outra vez, levemente as acidula a malícia, por exemplo, de uma desculpa mentirosa, de uma intenção sensual, mas sempre expressa com moderação e compostura. O cenário do pequenino drama lírico são as ribas do mar, a fontana fria, o pinhal ou o avelanal, e, com significativo predomínio, o santuário de romaria, o que, pelos elementos originários que implica, será em parte a explicação do normal recato desta lírica, tão diferente, a esse respeito, da francesa, por exemplo.O aristocratismo das formas italianas a pouco e