ERGOTISMO DO TRIGO NA FRANÇA

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Durante o episódio, moradores diziam que era tudo um complô de judeus, de ciganos ou da maçonaria. A polícia culpou, primeiro, o pão - daí o apelido do incidente, "pão maldito". Não era um problema inédito. Em outras ocasiões da história, o esporão, um fungo presente no trigo e no centeio, já havia provocado surtos de histeria. O fungo libera substâncias tóxicas para o cérebro humano e provoca o chamado "mal dos ardentes", ou "fogo de santo Antônio", problema conhecido desde a Idade Média. Ainda que os três médicos de Pont-Saint-Esprit discutissem os sintomas sem chegar a uma conclusão, a polícia tinha tanta certeza de que estava diante de um caso de ergotismo, a doença provocada pelo esporão, que chegou a prender o mais respeitado padeiro da vila, Roch Briand. Ele seria solto dois meses depois por falta de provas. Ao mexer com o pão, o inquérito esbarrou em um dos maiores patrimônios culinários franceses. Há registros de que soldados americanos, ao liberar as cidades da França ao fim da Segunda Guerra, ouviam dos nativos dois pedidos: liberdade e um bom pão branco. Em Pont-Saint-Esprit, a polícia fechou todas as oito padarias. Quando reabertas, elas ficaram às moscas. O medo do ergotismo se espalhou pela França e reduziu o consumo de pão por vários meses. Foi um golpe duro na autoestima de um povo que tentava se reerguer depois da invasão alemã. Pelas ruas da cidade - que hoje tem 10 mil habitantes, mas na época tinha 4,5 mil -, é praticamente impossível encontrar quem queira comentar as novas revelações ou relembrar o acontecimento. "É uma bobagem" e "não tem mais o que falar sobre isso" são as frases mais comuns, culminando com alguns "nos deixem em paz". Conseguir a identificação dos poucos que aceitam comentar, então, é tarefa ainda mais árdua: as testemunhas que falaram à imprensa e deram nome e sobrenome acabaram

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