Uma carta não é somente uma prática de escrita, é uma via de comunicação, bidirecional, produzida entre espaços distintos. Essencialmente um meio de comunicar, a função primária das cartas era a de passar informações aos destinatários sobre os acontecimentos ao redor dos remetentes; posteriormente, então adotadas por artistas literários e pensadores, passaram a ser inseridas em suas narrativas. Tal recurso denomina-se epistolografia, e o romance desenvolvido principalmente através de cartas é o epistolar. Tais termos têm uso antigo, constituindo modo literário a partir das epístolas do Novo Testamento. Importantes obras epistolares são Epístolas, de Horácio, Dracula, de Bram Stoker, A correspondência de Fradique Mendes, de Eça de Queirós, Os sofrimentos do jovem Werther, de Goethe, etc. Um texto epistolar pode não ser ficcional. Existem, por exemplo, epistolários biográficos, livros que reúnem conjunto de cartas pessoais de escritores de interesse nacional, e que deste modo adquirem grandioso valor documental. Assim foram publicadas as cartas de Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, por exemplo, com o objetivo de revelar a verdadeira figura do escritor, não somente como autor. Além disso, existem publicações de cartas que, ultrapassando os limites da informação, foram usadas para a dissertação de teorias e estudos, alcançando valor didático. Desta maneira Antônio Ferreira fez teoria da literatura, Correia Garção traçou as bases literárias do neoclassiscismo, etc. No entanto, as obras mais famosas desse gênero ainda são os romances. Na ficção, o destinatário das cartas pode tanto ser uma pessoa real quando imaginária, viva ou morta, pode ser o público geral ou pode somente ter em vista sua própria publicação. O ensaio de Vergílio Ferreira Carta ao Futuro, por exemplo, não dirige a alguém em específico, mas sim a toda a humanidade, ao futuro. Na verdade, para o modo epistolar puramente ficcional o destino da carta não importa, mas sim o exercício da escrita