Terra das minhas ilusões, 04 de outubro de 2013 Prezados organizadores do Concurso Quero, primeiramente, parabenizá-los por essa iniciativa em um momento histórico de profundas transformações em que o lápis, a caneta e o papel, instrumentos especulares da escrita do homem até bem pouco tempo, são trocados por telas de computadores e de tablets onde as letras, digitadas, vão construindo textos. Propor escrever cartas e preservar deste meio de comunicação é também trazer para a reflexão a importância da narrativa e os perigos advindos da possibilidade de seu desaparecimento tão bem discutidos por Walter Benjamin em seu estudo sobre a figura do narrador, uma vez que a carta se apresenta como uma narrativa peculiar, escrita para contar alguma coisa para alguém. Embora Vieira, referindo-se ao aspecto estético desse gênero de escritura, a considerasse uma produção artística, mas sem nenhuma arte, as cartas povoam, desde há muito, a literatura estrangeira e a do Brasil. Quero, em segundo lugar, dizer da minha paixão por cartas. A epistolografia fez parte de minha vida desde muito cedo: uma tia, Sebastiana, modista à época, escrevia cartas, de pé, em uma escrivaninha muito linda e apropriada para esta atividade. com quatro, cinco páginas, para a família, contando as novidades. A letra, desenhada com tinta negra, era belíssima O exercício habitual dessas missivas e a alegria com que recebia as respostas, lidas por ela, sentada em sua cadeira de balanço, para nós, em sua volta, propiciaram meu primeiro imaginário sobre cartas. Por volta de 1957, quando aluna do antigo Curso Normal, a epistolografia estava em moda ainda. As cartas já não eram escritas com bico de pena, molhados em tinteiros de vidros ornamentais, como os usados por minha tia e meu pai, com os quais eles desenhavam os traços das letras, tornando singular e bela a apresentação final da missiva.