Ensino médio
EFERVESCÊNCIA, DINAMOGENIA E A
ONTOGÊNESE SOCIAL DO SAGRADO
Raquel Andrade Weiss
Introdução
Neste ano em que se comemora o centenário de publicação da mais controversa obra de Émile Durkheim, Les formes élémentaires de la vie réligieuse, proponho investigar um dos conceitos mais complexos e menos definidos de seu pensamento, e que ocupa uma posição estrutural na referida obra.
Trata-se do relevante e obscuro conceito de sagrado. Embora muito já tenha sido escrito sobre o assunto, há ainda importantes elementos a serem explorados e lacunas à espera de serem preenchidas, e o presente artigo procura oferecer uma contribuição em relação a esse processo.
O ponto de partida da presente investigação foi precisamente o enfrentamento dessa questão por parte da literatura especializada, que permitiu que fossem identificadas as principais críticas e interpretações em relação a esse conceito da teoria durkheimiana. Embora nem toda essa literatura apareça o tempo todo de forma direta no texto, trata-se de uma interlocução constante que ajudou a destacar paradoxos e aporias, a elucidar ideias e a definir a parte desse terreno que ainda estava à espera de ser explorada. De modo geral, as duas principais referências para o mapeamento do “estado da arte” dessa discussão em torno do sagrado foram a biografia intelectual escrita por Steven
Lukes (1973), na qual são sistematizadas e classificadas todas as críticas feitas até então pela literatura ao referido livro de Durkheim, e a obra-prima de
William Pickering, Durkheim’s sociology of religion, que se mantém ainda hoje como uma das principais referências, senão a principal, para o estudo desse aspecto da obra durkheimiana. Para considerações mais pontuais sobre esse debate em torno do sagrado, diversos outros trabalhos foram considerados, ainda que não sejam citados de forma exaustiva no corpo do texto.1
Mas, afinal, diante de toda essa gama de interpretações e análises, qual
é