Ensaio sobre Platão
Platão (c. 429 - 347 a.C.)
Trechos transcritos das seguintes traduções: (1) Teeteto (c. 360-355 a.C.), trad. F. Melro, Inquérito, Lisboa, s/d, pp. 156-9. (2) Mênon (c. 387-380
a.C.), trad. J. Paleikat, in: Diálogos I, Tecnoprint (Ediouro), Rio de
Janeiro, s/d, pp. 44-74, trecho nas pp. 71-2. Na transcrição, algumas palavras tiveram suas grafias modernizadas, e o termo “ciência” foi traduzido como “conhecimento”.
Transcrição feita para o curso de Teoria do Conhecimento e Filosofia da
Ciência I (FLF0368), prof. Osvaldo Pessoa Jr., 2o semestre de 2010.
Teeteto (200d-201d) roubo ou de qualquer outro crime, a ouvintes que não foram testemunhas do fato?
TEETETO – Não creio, de forma nenhuma. Eles não fazem senão persuadi-los.
SÓCRATES – Mas, para ti, persuadir alguém não será levá-lo a ter uma opinião?
TEETETO – Sem dúvida.
SÓCRATES – Então, quando há juizes que se acham justamente persuadidos de fatos que só uma testemunha ocular, e mais ninguém, pode saber, não é verdade que, ao julgarem esses fatos por ouvir dizer, depois de terem formado deles uma opinião verdadeira, pronunciam um juízo desprovido de conhecimento, embora tendo uma convicção justa, se deram uma sentença correta?
TEETETO – Com certeza.
SÓCRATES – Mas, meu amigo, se a opinião verdadeira dos juizes e o conhecimento fossem a mesma coisa, nunca o melhor dos juizes teria uma opinião correta sem conhecimento. A verdade, porém, é que se trata de duas coisas diferentes. TEETETO – Eu mesmo já ouvi alguém fazer essa distinção, Sócrates; tinha-me esquecido dela, mas voltei a lembrar-me. Dizia essa pessoa que a opinião verdadeira acompanhada de razão é conhecimento, e que, desprovida de razão, a opinião está fora do conhecimento e que as coisas que não é possível explicar são incognoscíveis (é a expressão que empregava) e as que é possível explicar são cognoscíveis.
SÓCRATES – Estás a falar bem. Mas como distinguia ele o cognoscível