Resenha do ensaio de Sontag - Na caverna de Platão
Na caverna de Platão é o primeiro de seis ensaios críticos que compõem o livro Sobre fotografia da escritora e cineasta Susan Sontag. Neste livro, a autora discute a história e a influência da fotografia sobre a forma como vemos o mundo e participamos dele. O título do ensaio estabelece uma comparação entre o crescente inventário de imagens que a sociedade vem acumulando desde a invenção da fotografia e as imagens distorcidas projetadas nas paredes da caverna na alegoria de Platão. Mesmo tendo sido publicado na década de 70, o ensaio de Susan Sontag já previa um mundo inundado por imagens, em que posicionar uma câmera entre os olhos e a realidade seria não só uma opção, mas um vício. A autora explica que fotografias são objetos fascinantes, que capturam e congelam "fatias do tempo" (SONTAG, 2004, pp 13-35), diferente da televisão, por exemplo, em que imagens são apresentadas sucessivamente e rapidamente descartadas. Fotografias podem ser guardadas, colecionadas, vistas e revistas. Elas registram e eternizam um momento, além de transformá-lo em algo que pode ser possuído, comercializado. Fotografias tornam os eventos mais reais, uma vez que são provas irrefutáveis dos acontecimentos. Por outro lado, a possibilidade de olhar para um momento repetidas vezes pode causar um distanciamento. Fotografias podem ser instrumentos de controle e de vigilância, podem democratizar experiências, podem despertar repúdio e confirmar ideologias, assim como podem banalizar acontecimentos importantes justamente por multiplicá-los e sujeitá-los a uma super exposição. Fotografar pessoas é eternizar um momento de sua existência que elas nunca poderiam ver por si só. Trata-se de uma violação, uma agressão, segundo a autora, que compara máquinas fotográficas a armas de fogo. Se pensarmos, por exemplo, nos paparazzi dos dias de hoje, tal comparação é muito pertinente. Pessoas tem suas vidas invadidas por câmeras, fotógrafos